Reencontro
Estava chovendo muito. Parecia que o céu desabava sobre a cidade do Rio de Janeiro. Parei o carro a uns metros da produtora. Procurava sair de um emaranhado de carros que se aglomeraram me impedindo a passagem. Sons de buzinas bombardeavam meus ouvidos. Respirei fundo. Parei. Olhei através do retrovisor esquerdo. Passou correndo um rapaz de camisa vermelha, calça jeans e tênis branco. Carregava uma pasta de papel preta embaixo do braço.
Olhei para o outro lado da calçada, o vi tremendo, com os braços cruzados como se pudesse aliviar um pouco o frio que sentia. Dei a ré, virei para a esquerda em plena avenida. Segui manobrando no meio da rua. Vários carros pararam. Os motoristas me xingavam, como loucos. Consegui, à custo, chegar a pista de subida, contrária de onde estava. Estacionei bem próximo ao meio fio. Abaixei o vidro do carro. Acenei para que entrasse. Ele me olhou desconfiado e surpreso. Reparou os lados e atrás para ter certeza que falava com ele. Abri a porta e o convoquei a entrar.
Depois de me olhar profundamente, enfim, me reconheceu e resolveu entrar.
-Estou todo molhado – e sorriu.
-Pode entrar – convidei novamente.
Completamente ensopado, a pasta de papel irreconhecível, sentou-se do meu lado. Sorri para ele enquanto lhe entregava uma pequena toalha para se secar.
-Se lembra de mim não é? - perguntei.
-Ah sim. Claro. – respondeu meio sem jeito.
-O mundo dá muitas voltas.
-É
Olhei para trás e um grupo de motoristas queria passar por cima do meu carro. Acelerei. Disse-me que procurava emprego. Ri novamente e perguntei o que procurava. Ratificou que era um emprego. “Mas que tipo de emprego?” quis saber.
Na verdade, não sabia. Algo que lhe desse estabilidade na carteira e um dinheiro no final do mês.
-Você ainda toca?
-Sim – respondeu.
-então trabalhe comigo. Tenho uma produtora e uma companhia de teatro. Seja o nosso produtor musical. Assino sua carteira em quinze dias.
Seus olhos brilharam e o sorriso tomou contra do seu rosto. Estendi-lhe a mão aberta. Apertou forte e confiante, quase a pular de alegria.
-Nossas vidas estão ligadas. Não importa o que aconteça. Nós vamos sempre estar juntos.
Abaixou a cabeça meio sem graça e concordou.
Olavo Vieira, 13/ 10/2009. – 18:30h.